terça-feira, 20 de novembro de 2012


 Em busca do que revela Paris...


Quando há muito tempo conheci o 1° arrondissement de Paris, vi a concretização de um sonho... De repente, voltei ao tempo das aulas de francês, com as gravuras do rio Sena nas paredes da sala de aula... O que esta cidade tem revelado para mim, é uma surpresa a cada dia. Como é possível se ter tantas informações quando faço um só passeio? Bastou-me atravessar uma ponte, para me deparar com uma praça e um "square" que me revelam tantas coisas... Ecos de um passado ressoam em mim e certamente, irão também lhe provocar intensas sensações... Paris é eterna e mágica! Ela é brilhante! 

Vamos começar o nosso passeio de hoje? Provavelmente novas emoções vão surgir ao chegarmos à Ponte Nova (Pont Neuf em francês) que é a mais antiga das pontes que cruzam o rio Sena...

Foi assim denominada para se diferenciar das antigas pontes medievais que tinham casas de ambos os lados. Sua história remonta ao séc. XVI quando o rei Henrique III tomou a decisão de constru­í-la sobre quatro pilares a fim de permitir que as casas fossem erguidas (o que nunca aconteceu). Veio a guerra dos cem anos e as obras da ponte foram concluídas somente no séc. XVII, com Henrique IV que a inaugurou em 1607. Seu espaço nos revela as dimensões de uma ponte contemporrânea (1.40m de comprimento e 20.5m de largura)... Em sua história, um trágico acontecimento é a ela associado... 

No local que vemos hoje suas escadarias foi queimado o último Grão-Mestre dos Templários, Jacques de Molay. Incrível, não é mesmo? Ela foi a primeira ponte de pedra sem casas e com calçadas.  O Pont Neuf é um desafio ao próprio tempo...Quer maior prova do que seu nome que é o mesmo através dos séculos?

Conhecer Paris é um prazer inigualável! As surpresas aguardam somente o momento certo para aparecerem... No ponto em que a Ponte cruza a Île de la Cité, vemos a estátua equestre de Henrique IV, construida sob as ordens de Maria de Médicis, viúva do Rei no séc.XVII. Foi destruída sob a Revolução Francesa e reedificada no séc.XVIII (segundo o molde original que sobreviveu). Em 2005 a estátua foi restaurada e descobriram 4 caixinhas de ferro que foram depositadas pelo novo escultor (em 1818) sob a nova estátua. O que elas contêm? A história da vida de Henrique IV, um pergaminho do séc.XVII que descreve a encomenda da obra e a lista de pessoas que contribuíram para sua construção. 


No dia 25 de agosto de 1818 em plena comemoração de São Luís (nome de vários reis franceses) e do rei daquele momento, chamado Luís XVIII, sobre a Ponte Nova a população se comprime e se agita como em todos os dias de festa... Qual o evento? A estréia de uma estátua equestre monumental, em bronze, que representa Henrique IV! Como em todas as inaugurações, uma tribuna é erguida, o discurso está preparado, a distribuição de medalhas é feita, o  clima de festa está no ar, a massa se empolga... 

Na França, o rei Henrique IV é um mito. Ele é visto como o rei mais popular junto aos franceses! Realidade? O tempo nos dirá...  A ele associamos a tolerância religiosa. Dele é a frase « Paris vale bem uma missa », ele o protestante, quando teve que tornar-se católico para ser rei ;  ele que deu um término às sangrentas guerras de religião assinando em 1598 o Edito de Nantes que estabeleceu a liberdade de culto no país; ele que passando por um rei simples e próximo do povo, preocupou-se com a população e também com o desenvolvimento da agricultura e do bem estar de seus súditos: « não deve faltar galinha na panela do povo”. Na França, um país que cortou a cabeça da realeza, ele ainda goza de uma imagem muito popular. De toda maneira, os franceses gostam mais dele do que de  Luís XIV, « Luís o Grande », que até hoje é o símbolo da monarquia absoluta, tão oposta à cultura republicana implantada neste país. Além do mais, esta último revogou em 1685 o Edito de Nantes instaurado pelo seu avô!

A história fala também de sua paixão pelas mulheres  (Henrique IV foi chamado de “O Vert Galant” – o verde mulherengo) e seu comportamento levou o país à beira do caos... Seu gosto pelo poder alimentado por uma paixão sem limites...  Foi assassinado por Ravaillac e até hoje este é um fato misterioso... O rei é uma figura controvertida ...

E nossa caminhada continua...O que vamos descobrir ao lado da Ponte? A beleza que é a praça Dauphine com seu formato triangular... O que existe em seu centro? Um “square” com uma superfície de 2.665 m²!  Qual a sua origem? O próprio rei Henrique IV decidiu organizar a ponta oeste da cidade (Île de la Cité) entre o Palácio de la Cité  e a Ponte Nova. Foram construídas assim 32 casas idênticas  de pedra branca, tijolos e ardósia, no espírito da praça Real. Por que este nome? Ela foi batizada em honra ao futuro rei Luís XIII (le dauphin), mas durante 22 anos foi chamada de Thionville (1792-1814). Ela foi foi a segunda praça erguida pelo rei depois da praça de Vosges. E após tanto tempo, o que sobrou? Das casas iguais restaram duas que fazem ângulo com a Ponte. Todas as outras foram demolidas ou reconstruídas a partir do século XVIII...

O mudou na praça? A tranquilidade que ela transmite é a mesma de sempre... As sombras amigas oferecidas pelas castanheiras da Índia (árvore de origem balcânica introduzida na França no séc.XVII), é idêntica...  Se nos deixarmos levar pela sua magia, podemos sentar em seus bancos e imaginar que ao nosso lado estão falando baixinho na língua dos apaixonados, Simone Signoret e Yves Montand que moravam em uma das casas burguesas da praça... A praça nos acolhe com sua atmosfera parisiense através de seus cafés, restaurantes e inúmeras galerias de arte. Ela é especialmente romântica! ir no outono e tons

Paris não engana! Mágica e feiticeira, ela é realmente como imaginei desde que a conheci... De extremo encanto, altiva, aristocrática e digna...Uma beleza com seus mistérios e segredos... Ela nos torna insaciáveis... Quanto mais nos aprofundamos, mais a conhecemos... Neste exato momento, penso numa frase de Fernando Pessoa e imagino esta cidade enigmática e cheia de charme dizendo alto: “tenho em mim todos os sonhos do mundo”!


                                A magia que Paris nos revela, nos enfeitiça!

E, se necessário, podemos conversar no celiapprato@gmail.com 

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