Em busca do que revela Paris...
Quando há muito tempo conheci o 1° arrondissement de
Paris, vi a concretização de um sonho... De repente, voltei ao tempo das aulas
de francês, com as gravuras do rio Sena nas paredes da sala de aula... O que
esta cidade tem revelado para mim, é uma surpresa a cada dia. Como é possível
se ter tantas informações quando faço um
só passeio? Bastou-me atravessar uma ponte, para me deparar com uma praça e
um "square" que me revelam tantas coisas... Ecos de um passado ressoam em mim e
certamente, irão também lhe provocar intensas sensações... Paris é eterna e mágica! Ela
é brilhante!
Vamos começar o nosso passeio de hoje? Provavelmente
novas emoções vão surgir ao chegarmos à Ponte Nova (Pont Neuf em francês)
que é a mais antiga das pontes que cruzam o rio Sena...
Foi assim denominada
para se diferenciar das antigas pontes medievais que tinham casas de ambos os
lados. Sua história remonta ao séc. XVI quando o rei Henrique III tomou a
decisão de construí-la sobre quatro pilares a fim de permitir que as casas
fossem erguidas (o que nunca aconteceu). Veio a guerra dos cem anos e as obras
da ponte foram concluídas somente no séc. XVII, com Henrique IV que a inaugurou
em 1607. Seu espaço nos revela as dimensões de uma ponte contemporrânea (1.40m
de comprimento e 20.5m de largura)... Em sua história, um trágico acontecimento
é a ela associado...
No local que vemos hoje suas escadarias foi queimado o
último Grão-Mestre dos Templários, Jacques de Molay. Incrível, não é mesmo? Ela
foi a primeira ponte de pedra sem casas e com calçadas. O Pont Neuf é um desafio ao próprio
tempo...Quer maior prova do que seu nome que é o mesmo através dos séculos?
Conhecer Paris é um prazer inigualável! As surpresas aguardam somente o momento certo
para aparecerem... No ponto em que a Ponte cruza a Île de la Cité, vemos a
estátua equestre de Henrique IV, construida sob as ordens de Maria de
Médicis, viúva do Rei no séc.XVII. Foi destruída sob a Revolução Francesa e
reedificada no séc.XVIII (segundo o molde original que sobreviveu). Em 2005 a
estátua foi restaurada e descobriram 4 caixinhas de ferro que foram depositadas
pelo novo escultor (em 1818) sob a nova estátua. O que elas contêm? A
história da vida de Henrique IV, um pergaminho do séc.XVII que descreve a
encomenda da obra e a lista de pessoas que contribuíram para sua
construção.
No dia 25 de agosto de 1818 em plena comemoração de São Luís (nome de vários reis franceses) e do rei daquele momento, chamado Luís XVIII, sobre a Ponte Nova a população se comprime e se agita como em todos os dias de festa... Qual o evento? A estréia de uma estátua equestre monumental, em bronze, que representa Henrique IV! Como em todas as inaugurações, uma tribuna é erguida, o discurso está preparado, a distribuição de medalhas é feita, o clima de festa está no ar, a massa se empolga...
Na França, o rei Henrique IV é um mito. Ele é visto
como o rei mais popular junto aos franceses! Realidade? O tempo nos
dirá... A ele associamos a tolerância
religiosa. Dele é a frase « Paris vale bem uma missa », ele o
protestante, quando teve que tornar-se católico para ser rei ; ele que deu um término às sangrentas guerras
de religião assinando em 1598 o Edito de Nantes que estabeleceu a liberdade de
culto no país; ele que passando por um rei simples e próximo do povo, preocupou-se
com a população e também com o desenvolvimento da agricultura e do bem estar de
seus súditos: « não deve faltar galinha na panela do povo”. Na França, um
país que cortou a cabeça da realeza, ele ainda goza de uma imagem muito popular. De
toda maneira, os franceses gostam mais dele do que de Luís XIV, « Luís o Grande », que
até hoje é o símbolo da monarquia absoluta, tão oposta à cultura republicana
implantada neste país. Além do mais, esta último revogou em 1685 o Edito de Nantes instaurado pelo seu avô!
A história fala
também de sua paixão pelas mulheres (Henrique IV foi chamado de “O Vert Galant” –
o verde mulherengo) e seu comportamento levou o país à beira do caos... Seu gosto pelo poder
alimentado por uma paixão sem limites... Foi assassinado por Ravaillac e até hoje este é um fato misterioso... O rei é uma figura controvertida ...
E nossa caminhada continua...O que vamos descobrir ao
lado da Ponte? A beleza que é a praça Dauphine com seu formato triangular... O
que existe em seu centro? Um “square” com uma superfície de 2.665 m²! Qual a sua origem? O próprio rei Henrique IV
decidiu organizar a ponta oeste da cidade (Île de la Cité) entre o Palácio de la Cité e a
Ponte Nova. Foram construídas assim 32 casas idênticas de pedra branca, tijolos e ardósia, no
espírito da praça Real. Por que este nome? Ela foi batizada em honra ao futuro
rei Luís XIII (le dauphin), mas durante 22 anos foi chamada de Thionville
(1792-1814). Ela foi foi a segunda praça erguida pelo rei depois da praça de Vosges. E após tanto tempo, o que sobrou? Das casas iguais restaram duas que
fazem ângulo com a Ponte. Todas as outras foram demolidas ou reconstruídas a
partir do século XVIII...
O mudou na praça? A tranquilidade que ela transmite é
a mesma de sempre... As sombras amigas oferecidas pelas castanheiras da Índia
(árvore de origem balcânica introduzida na França no séc.XVII), é
idêntica... Se nos deixarmos levar pela
sua magia, podemos sentar em seus bancos e imaginar que ao nosso lado estão
falando baixinho na língua dos apaixonados, Simone Signoret e Yves Montand que
moravam em uma das casas burguesas da praça... A praça nos acolhe com sua atmosfera
parisiense através de seus cafés, restaurantes e inúmeras galerias de arte. Ela
é especialmente romântica! ir no outono e tons
Paris não engana! Mágica e feiticeira, ela é realmente
como imaginei desde que a conheci... De extremo encanto, altiva, aristocrática
e digna...Uma beleza com seus mistérios e segredos... Ela nos torna
insaciáveis... Quanto mais nos aprofundamos, mais a conhecemos... Neste exato
momento, penso numa frase de Fernando Pessoa e imagino esta cidade enigmática e
cheia de charme dizendo alto: “tenho em mim todos os sonhos do mundo”!
A magia que Paris nos
revela, nos enfeitiça!
E, se necessário, podemos conversar no celiapprato@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário